O caminho e a arte das flores
Você reparou que no Atelier Hideko Honma sempre tem ikebanas distribuídos em diversos pontos? Inclusive logo à entrada, como uma saudação de boas vindas.
A ikebana é o caminho e a arte das flores. Normalmente é traduzido como arranjo floral, mas é muito mais do que isso.
A arte do ikebana teve origem como uma oferenda de flores às divindades, dando ênfase ao uso de materiais e formas em seu estado natural. No século 14, o tatehana (o ritual de colocar o arranjo de flores em pé em frente ao altar budista) adquiriu uma conotação também estética, além de religiosa e a partir daí começaram a surgir diversas técnicas de composição das flores.
O Rikka é considerado o fundamento do Ikebana. A composição em posição vertical com os galhos saindo do vaso como suporte para criar o conjunto da paisagem. A partir do Rikka surgiu o Shokka, que a partir de seus três elementos (shin, soe, tai) foram criadas as bases do Nagueire e do Moribana. No estilo Moribana, os galhos e as flores são compostos como se estivessem empilhados. Já no estilo Nagueire, a forma básica é a inclinação dos galhos e das flores, arranjados geralmente em vasos mais fundos. Enquanto no Moribana os galhos têm funções preestabelecidas, no Nagueire a composição deve criar uma harmonia entre as plantas e o vaso.
A partir do início do século 20, com o Japão se abrindo para o Ocidente e as transformações no estilo de vida, a Ikebana se libertou das formas e tradições clássicas. Depois da Segunda Guerra Mundial, passou a se admitir a introdução de outros elementos que não fossem vegetais, no arranjo. A Escola que mais se destacou nessa vanguarda foi a Sogetsu School, fundada em 1927 por Sofu Teshigahara, e que foi o primeiro Grão-Mestre da escola. Após a Segunda Grande Guerra, Sofu empreendeu várias viagens pela Europa e Estados Unidos, divulgando a sua arte. Tamanha atividade lhe rendeu o reconhecimento do governo francês, que outorgou a ele a Ordem das Artes e Letras, em 1960. No ano seguinte, o governo japonês lhe concedeu o Prêmio do Ministério da Educação.
Seguiram-se como Grão-Mestres da Sogetsu, Kasumi Teshigahara, a primeira filha de Sofu, Hiroshi Teshigahara, o filho de Sofu, que se notabilizou também como cineasta (foi o diretor do clássico “A Mulher de Areia”, prêmio especial do juri no Festival de Cannes, em 1964 e também indicado ao Oscar de melhor direção). Atualmente, a Grã-Mestre da escola é Akane Teshigahara, filha de Hiroshi e neta do fundador.
No Brasil, uma das mais atuantes representantes deste estilo é a professora Tamako Yoshimoto. É ela que produz as ikebanas que ornam o Atelier Hideko Honma. Tamako sensei é também a responsável pelas grandes instalações de ikebana para eventos do Atelier, como o Sukiyaki do Bem. Seu encontro com o ikebana foi casual. “Foi por volta de 1969, 1970. Estava na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e Assistência Social, o Bunkyo, e vi uma professora dando aula de ikebana. Fiquei curiosa e entrei para assistir. Foi paixão à primeira vista”, lembra. Por opção, escolheu se aprofundar nos preceitos da escola Sogetsu, e atualmente a professora, além de produzir as suas obras, ministra aulas e workshops e realiza demonstrações. Para o segundo semestre de 2023, estão previstos workshops no Atelier Hideko Honma.
Tamako sensei visitou o Sogetsu Kaikan, em Tokyo, imponente Centro Cultural e sede da Escola Sogetsu, que fica no elegante bairro de Akasaka. O projeto arquitetônico é de Kenzo Tange (1913-2005), um dos mais proeminentes arquitetos do Japão e laureado com o prêmio Pritzker, o reconhecimento máximo da arquitetura mundial. O hall de entrada foi projetado por Isamu Noguchi, artista nipo-americano que se notabilizou como escultor, paisagista e designer. São famosas as suas luminárias, feitas com estrutura de bambu e papel washi.
“Recebo muita influência da atual iemoto (grã-mestra) Akane Teshigahara”, confidencia Tamako sensei. Suas obras estão na vanguarda do tempo, e sempre nos trazem surpresas, como no emprego de elementos não-vegetais em suas obras. São frequente presença telas de arame e fios de cobre, por exemplo, que dão um toque estrutural, ao mesmo tempo em que moldam o espaço do ikebana.
Em sua próxima visita ao Atelier Hideko Honma, não deixe de reparar nas criações da professora Tamako. Elas podem ser vistas também na loja Shin, dentro da Japan House.
Loja Shin & Furoshiki Store – Japan House: Avenida Paulista, 52 térreo e no 1º andar | São Paulo SP Telefone: 11 94779-4177 Instagram: @furoshikistore
Horário de funcionamento: Terça-feira a sexta-feira | das 10h às 18h, Sábados | das 9h às 19h, Domingos e feriados | das 9h às 18h Segunda-feira* | FECHADA
Atelier Hideko Honma: Av. Jacutinga, 434 Moema | São Paulo SP Telefone: (11) 5042-4450 e (11) 5042-4459 contato@hidekohonma.com.br instagram: @hidekohonma
Horário de funcionamento: Segunda a sexta-feira das 9h às 18h, Sábado das 9h às 17h. Para visita desejável agendamento prévio por telefone ou email.
Tamako Yoshimoto: Instagram: @tamakoyoshimoto email: tamakoyoshimoto@yahoo.com.br
Crédito fotos:
Da Sogetsu Kaika – divulgação Sogetsu Foundation
Das obras de Tamako Yoshimoto – do acervo pessoal da artista.