Kimi Nii fala da relação entre design e cerâmica em palestra sobre chawan
Um grande nome da cerâmica e escultura no Brasil, Kimi Nii falou de sua trajetória e seus chawans no quarto dia do ciclo Chawan Project, realizado no dia 26 de setembro, na Japan House, em São Paulo.
O Chawan Project, iniciado em junho, tem a curadoria de Hideko Honma e traz todo mês um especialista para falar sobre a tigela japonesa chawan. A partir dessa única peça, os palestrantes tecem verdadeiras aulas sobre beleza, história, filosofia e arte. A sala, sempre cheia, mostra o sucesso que tem sido o evento.
Kimi Nii chegou ao Brasil aos nove anos de idade, formou-se em desenho industrial e trabalhou como designer. Seu primeiro contato com a cerâmica aconteceu em uma aula, na década de 1970. Foi uma revelação, contou Kimi. Ela percebeu que, por meio dessa arte, poderia dar forma a suas ideias com as próprias mãos. “Senti uma emoção tão grande que não conseguia dormir naquela noite”, contou. “Sou designer, e a ideia de poder eu mesma executar um projeto, de fazer tudo, era uma delícia”.
Assim teve início sua trajetória como ceramista. Kimi falou sobre suas experimentações com o primeiro forno, construído com sócios, a partir de peças de ferro-velho. Além disso, contou como resolveu tirar proveito da maneira como as peças amoleciam e “entortavam” durante a queima, aliando-a à sua criatividade. “É o defeito que vira efeito”, brincou.
Chawan dos monges
Para falar sobre o chawan, Kimi mostrou imagens e falou sobre um conjunto de tigelas de diferentes tamanhos que os monges budistas possuem, chamado de “oryoki”. Esse kit é usado nas refeições. É levado, inclusive, em viagens.
Como cada peça tem um tamanho diferente, uma pode ser colocada dentro da outra. Depois, são embrulhadas em um tecido. Abrir o tecido, retirar os chawans e depois limpar e guarda-los novamente são ações realizadas seguindo uma sequência de gestos e reverências, em um verdadeiro ritual, explicou. . “Esse kit tem um design muito bem resolvido”.
Em seguida, Kimi contou como ela também faz tigelas que cabem uma dentro da outra, como no oryoki dos monges. Falou ainda das diferentes linhas de tigelas para arroz, para missoshiru (sopa de missô) e das maiores, para macarrão do tipo udon, que já produziu. As peças têm ora pontas arredondadas, ora são ligeiramente alongadas de um lado ou inclinadas de outro, em uma variedade de formas que segue surpreendendo os apreciadores dessa arte.
Simplicidade no dia a dia
Durante a palestra, Kimi também falou sobre a beleza que linhas simples e puras dão aos objetos. Abordou a influência do zen budismo no design, e mostrou itens modernos que seguem esse conceito de simplicidade e minimalismo, como a cadeira de Michael Thonet, de 1859, e a poltrona Paulistano, de Paulo Mendes da Rocha, de 1957. Mesmo objetos do dia a dia, como o shamoji, usado para servir o arroz, são peças bem resolvidas do ponto de vista do design, explicou.
Assim como Hideko Honma, Kimi Nii também mantém parcerias com renomados chefs, que usam suas peças utilitárias em seus restaurantes, agregando mais beleza à composição de seus pratos.
Ao final da palestra, os presentes puderam ver de perto os chawans de Kimi Nii. Kenjiro Ikoma e Akinori Nakatani, que já foram palestrantes do ciclo, em julho e em agosto, também prestigiaram o evento nesse dia.
E assim encerrou-se mais uma conversa, com sucesso, do Chawan Project. A próxima palestra será no dia 24 de outubro, com Shugo Izumi, a partir das 19h. As senhas são distribuídas uma hora antes, na Japan House, que fica na Av. Paulista, 52, próximo à estação Brigadeiro do Metrô (linha verde).
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