Sementes do Tempo: A Chawan — o tempo e a essência na cerâmica de Hideko Honma
A exposição itinerante “Sementes do Tempo” chega à sua 4ª edição, intitulada “A Chawan”, revelando mais uma etapa da trajetória poética e filosófica de Hideko Honma e de suas alunas e alunos.

Concebida originalmente para o Ikoi no Sono, uma instituição de assistência social criada para atender idosos, promovendo qualidade de vida e envelhecimento ativo, em junho deste ano, a mostra teve um momento especial de abertura, marcado pela presença de Sua Alteza Imperial, a Princesa Kako do Japão, e diplomatas japoneses. A ocasião foi um tributo à amizade entre Brasil e Japão, celebrada em torno da arte, da hospitalidade e do gesto simbólico de oferecer o chá. Afinal, este ano é celebrado também os 130 anos do Tratado de Amizade entre os dois países.

Após essa estreia intimista, a exposição iniciou uma itinerância que já passou pelo Museu da Imigração, no Brás, e agora chega à Fundação Japão, em São Paulo, com curadoria de Mônica Urasaki.

O tempo no vazio da chawan
No coração da exposição, o visitante é convidado a contemplar o vazio — aquele que repousa no interior de uma chawan, a tigela de chá que acolhe o gesto, o tempo e a memória. Cada peça — seja uma chawan ou uma yunomi — carrega o toque singular de Hideko e de seus alunos, entrelaçando gerações e reafirmando os laços invisíveis entre quem cria, quem oferece e quem recebe.

A mostra também reflete o símbolo que atravessa a obra da artista: a espiral. Presente como traço recorrente em sua cerâmica, ela representa o movimento da evolução, o retorno à essência e a expansão da consciência. No centro dessa espiral está o hoju (宝珠) — a “joia preciosa” da tradição japonesa, emblema da virtude interior e da busca pela sabedoria e plenitude.

Na poética de Hideko, o hoju é o ponto de luz que nasce da paciência e do tempo — elementos que o barro conhece bem. “Do barro à chawan, da prática à contemplação, da forma ao autoconhecimento”, a artista revela que criar é também um exercício espiritual, um modo de existir no mundo.

Roda de conversa: filosofia e sensibilidade
Durante a exposição, uma Roda de Conversa reuniu artistas, ceramistas e admiradores no dia 25 de outubro, em torno do tema “A Chawan”. O encontro foi uma imersão no significado simbólico, estético e sensorial da tigela de chá, com a participação do filósofo Valderson de Souza, mestre em Cultura Japonesa e praticante dos caminhos da flor (kadō), do chá (chadō) e da caligrafia (shodō).

Em diálogo com Hideko Honma, Valderson teceu pontes entre arte, filosofia e matéria, destacando os princípios da cerimônia do chá — harmonia, respeito, pureza e tranquilidade — e a beleza que nasce das mãos de quem cria.

Em suas palavras emocionadas, Hideko sintetizou o espírito dessa jornada:
“A missão do ceramista durante décadas é alcançar segurança e criar uma chawan honesta. Este ano em especial, sinto-me dentro de uma chawan além da honesta — uma chawan excepcional, repleta de luz. Sou grata e sei que essa iluminação é possível porque é o reflexo desses seres humanos incríveis que caminham ao meu lado.”

Serviço
Exposição Itinerante “Sementes do Tempo” — 4ª edição: A Chawan
Local: Fundação Japão — Av. Paulista, 52, Bela Vista, São Paulo-SP
Período: de 11 de outubro a 22 de novembro de 2025
Horário: de terça a sexta, das 10h30 às 19h30
Sábados alternados (ver programação no site da Fundação Japão)
Fotos: Fernanda Stavich
