Conheça as xícaras que foram finalistas do concurso do Museu do Café

Conheça as xícaras que foram finalistas do concurso do Museu do Café

28 de março de 2021 Off Por bloghideko

Já faz um ano que foram abertas as inscrições para o concurso “A Xícara do Museu”, realizado pelo Museu do Café, em parceria com o coletivo Cerâmica Contemporânea Brasileira – CCBras e com a curadoria de Hideko Honma. Ideia que surgiu a partir de uma boa conversa e ganhou corpo com a dedicação das equipes do museu, do coletivo e da ceramista, o concurso recebeu dezenas de inscrições, mesmo em meio ao primeiro pico da pandemia de Covid-19. O resultado saiu em outubro, e as 20 peças finalistas – dez da categoria utilitária/funcional e dez da categoria artística/conceitual, ficaram expostas no prédio histórico do museu, na antiga Bolsa do Café, em Santos.

 

Exposição A Xícara do Museu, no Museu do Café, em Santos, em 2020. Fotos: Museu do Café

Para essa mostra, a instituição produziu um catálogo com textos em que cada finalista apresenta o que o inspirou e o conceito e a técnica empregados em suas peças. É um registro bem precioso de diferentes processos criativos. “As xícaras provocam sentidos e aguçam imaginários”, escreve Hideko no início da publicação. Para ela, as peças convidam quem as observa a refletir sobre “questões sobre conceitos, diferenças entre artefato, artesanato, arte, produção industrial, cópia e reprodução, design, criação e originalidade”.

Hideko Honma, ao fundo, e jurados avaliam peças na final do concurso “A Xícara do Museu”

Hideko Honma durante a final do concurso

 

Capa do catálogo da exposição

Recentemente, as vencedoras Nádia Saad (categoria Artística/Conceitual) e Cristina Rocha (categoria Funcional/Utilitária) conversaram com Hideko Honma sobre seus processos de criação em uma live promovida pelo museu.

Compartilhamos aqui, com autorização do Museu do Café e do CCBras, as imagens e os comentários de cada peça. Assim você já conhece as peças, para poder participar do leilão. Com isso, esperamos encorajar mais instituições a incentivarem a produção cultural e artística, em especial, da cerâmica, no país. E, claro, esperamos que cada vez mais pessoas descubram e trilhem o caminho da cerâmica!

E, se você está curioso sobre as outras peças que chegaram mas não foram para a final, elas serão leiloadas, em breve, no dia 7/4. Veja informações aqui.

Finalistas Categoria Utilitária/Funcional

Alice Tomoko Sawamura
(São Paulo, SP)
Título da obra: Café com Emoção

“Café com emoção”, de Alice Tomoko Sawamura

“Criar uma peça para um cafezinho, que é uma bebida universal, é uma tarefa muito complexa. Penso que, ao segurar uma xícara para tomar o café, há outros sentimentos envolvidos, e não somente o simples fato de tomar um café. É um momento de prazer, em que o sabor e o aroma se confundem com o visual de algo que envolve o líquido que faz parte do nosso dia a dia. Fiz uma imagem externa que lembra o fruto e o grão de café, e esmaltei com uma cor singela que mostra toda a intensidade da cor do café na parte interna. Você segura a alça podendo envolver a xícara, sentindo o calor nas suas mãos. Assim, você degusta o cafezinho sentindo toda a emoção que esse líquido proporciona.

Ao fazer o pires, pensei em colocar um desenho que lembrasse alguma parte do Museu do Café, e quando vi o piso do Salão do Pregão, com os desenhos geométricos em mármore e a estrela de Davi ao centro, pensei: por que não colocar essa estrela na base do pires? Afinal, a base do Museu do Café tem similaridade com a base de uma xícara do Museu!”

 

Chen Chia Chin
(São Paulo, SP)
Título da obra: Xícara M

“Xícara M”, de Chen Chia Chin

“A inspiração para a criação da xícara de café do Museu está relacionada aos ricos elementos arquitetônicos presentes no edifício. Além de ser um objeto que cumpre a função de servir o café, espero que o formato da xícara lembre às pessoas a história do Museu do Café.

Para a produção da xícara de café, utilizei técnicas compostas. Primeiro tentei fazer um protótipo com um torno elétrico, depois confirmei as proporções gerais e, por fim, corrigi os detalhes com minhas próprias mãos. Assim que fiquei satisfeito com a forma, fiz meu próprio molde de gesso e uso da barbotina, para um maior controle de padrão de qualidade e o formato do copo.

Como pode ser visto na xícara, ela é composta de 20 ranhuras. Tal formato é inspirado nas colunas da ordem arquitetônica clássica e proporciona um toque diferente ao corpo da xícara. As dimensões da xícara são baseadas em uma pesquisa que fiz ao visitar o Museu do Café no início de 2020, quando fui investigar a bebida mais consumida por lá e descobri que é o café expresso. Então, criei uma xícara com 60 ml especificamente para o expresso-padrão de 35 a 40 ml. No entanto, o mesmo conceito de design pode ser aplicado aos demais utensílios subsequentes, seja uma xícara média para cappuccino, seja um copo sem alça para café coado, tendo em vista que existem tamanhos e formatos de xícaras exclusivos.”

 

Cristina Rocha de Souza Pinto – Primeiro lugar
(Campinas, SP)
Título da obra: Horizonte

“Horizonte”, de Cristina Rocha de Souza Pinto, 1º lugar na categoria Utilitária/Funcional

“Café, para mim, remete à felicidade. O cheiro de café fresco evoca lembranças desde pequena na casa da minha avó, com a família reunida para o lanche da tarde, até a fase adulta, na minha própria casa, recebendo pessoas queridas. Comecei a me questionar como traduzir essa afetividade junto de uma história tão rica e importante para o nosso país em uma peça. O calor do afeto e o fato de o ceramista trabalhar junto ao fogo me remeteram à temperatura do café, uma característica tão importante para a bebida. Pensei em uma xícara estruturada com duas paredes, de modo que o ar no interior da peça atue como um isolante e não deixe o café esfriar tão rápido, além de não aquecer a alça, o que proporciona uma melhor experiência para o usuário.

Essa xícara tem um peso maior que o de uma xícara de parede única, o que traz mais firmeza durante seu uso. Além disso, há uma brincadeira que não é notada inicialmente por quem degusta o cafezinho: o design interior é diferente do exterior. A parte interna possui um formato mais arredondado, que remete aos arcos do Museu do Café e busca trazer mais harmonia para a bebida, enquanto a parte externa possui um formato mais cônico.

O esmalte utilizado, um tenmoku, foi escolhido por uma série de razões: por seu contraste com a cor do café, por ser um esmalte sem toxicidade alimentar e totalmente produzido em meu ateliê (controle total das matérias-primas) e por suas características únicas, transformando cada xícara em uma obra de arte sem igual. A base da xícara e do pires recebeu uma camada de óxido de ferro com água, visando reduzir o contraste entre o esmalte e a cor do barro, além de produzir uma “linha” fosca que dá mais volume ao esmalte.

Por último, dois detalhes finais: a representação do grão de café adornando a alça é uma homenagem a esse fruto que, mesmo tão pequeno, é capaz de unir pessoas no mundo inteiro. E o título, Horizonte, remete ao meu lugar preferido para tomar um cafezinho, que é na sacada do meu sítio, apreciando o horizonte e toda a magnitude da natureza.”

 

Eda Carvalho Cunha
(Ribeirão Preto, SP)
Título da obra: Gradális (Cálice, em latim)

“Gradális”, de Eda Carvalho Cunha

Resultado de uma alquimia de ideias, a xícara Gradális veio criar algo novo, como se parecesse voar enquanto estivesse repousando sobre sua base e não pudesse ficar só sem a atenção do apreciador ao saborear o café. O azul profundo no interior da xícara contrasta com a espuma creme do café, integrando os sentidos da visão e do olfato e aguçando a curiosidade e a imaginação ao degustar o café expresso que acaba de ser feito! A cor turquesa no exterior remete à imensidão de um céu limpo e claro, desanuviando os pensamentos para que seja possível uma experiência holística e harmoniosa entre a xícara, o café e o ser humano.

 

Érika Castro Menezes dos Santos
(Nova Friburgo, RJ)
Título da obra: Grão Verde

“Grão Verde”, de Érika Castro Menezes dos Santos

“O conjunto de xícara e pires Grão Verde explora o design moderno minimalista e, ao mesmo tempo, resgata a tradição das serenatas no interior do Brasil durante o Período Colonial, com o uso da argila rústica coletada em uma fazenda de café localizada na região serrana do Rio de Janeiro. A escolha de esmalte transparente brilhante criou a cor verde-musgo sobre a argila rústica negra com efeito laqueado, destacando sua textura é imperfeições, deixando aparentes as marcas das ferramentas usadas pela ceramista como uma narrativa silenciosa de todo o processo.

A fusão do esmalte laqueado verde-musgo com o esmalte preto brilhante, usado sobre o engobe grosso de cinzas da casca de café, produziu com contrastes de cor, volume e textura na base da xícara, fazendo uma alusão ao ciclo de vida da casca do café. Esse ciclo começa no fruto verde-musgo do cafeeiro, chega à cor marrom-escuro depois de desidrata ao sol no terreiro, passa pelo ocre transparente depois de secar nos silos, até se transformar em diversos tons de preto após ser usada como combustível nas fornalhas de torrefação, tornando-se pó de cinza e voltando à terra como adubo nos cafezais. O tamanho intermediário escolhido para a xícara comporta um cafezinho generoso ou um café médio, levando em consideração o peso final da xícara cheia e ergonomia da alça, que se ajusta no conforto e na segurança ao gancho de dois ou três dedos. O desenho da alça, seu tamanho e sua altura respeitam o limite da borda alta dos pires, que cumpre sua função principal como apoio da xícara, trazendo volume e personalidade ao conjunto.”

 

Fernando Cezar Teixeira Nunes – 2o lugar
(Garopaba, SC)
Título da obra: DueColore

“DueColore”, de Fernando Cezar Teixeinra Nunes, 2º lugar na categoria Utilitária/Funcional

A xícara tem capacidade de até 160 ml, não é grande nem pequena. Foi projetada com uma curva suave de baixo para cima, com uma alça (asa) confortável de segurar.

Elegante, ela tem uma base menor se ligando a uma boca com o dobro do seu diâmetro, deixando-a com mais cintura sem perder a ergonomia a que foi projetada.

A xícara tem parede relativamente fina, tornando-se leve não só na aspecto visual mas também no seu peso e, ainda assim, consegue reter muito bem o calor da bebida.

Sua embocadura foi projetada para encaixar os hábitos suavemente na borda fina.

Seu pires é alto, projetado para deixar a xícara com aspecto flutuante. Também é fácil de fazer a pegada por baixo com os dedos, facilitando seu uso no dia a dia em casa ou em cafeterias.

O esmalte é semifosco, foi pensado para dar suavidade ao toque na peça. Aguenta a repetição da troca de calor e lavagens sucessivas. A barbotina grés foi formulada por para ter resistência e encaixar perfeitamente com o esmalte.
A xícara foi batizada de DueColore, simplesmente, porque é esmaltada em duas camadas, tanto na xícara quanto no pires.

 

Gisele de Loureiro Fracari
(São Paulo, SP)
Título da obra: Ramagem

“Ramagem”, de Gisele Loureiro Fracari

Logo na entrada do Museu do Café há um vitral com o símbolo dos Estados Unidos do Brasil, nome do país a época de inauguração do palácio da antiga Bolsa Oficial de Café, onde está instalado o Museu. Há também o Brasão de Armas do Brasil, composto de um ramo de café e de um fumo, as duas culturas mais importantes que sugerem a rugosidade das nervuras das folhas dos ramos e seus pecíolos.

Os ramos de café e as paredes de alguns espaços no interior do Museu serviram de base para a criação da xícara utilitária. A alça (asa) foi inspirada nas folhas das ramagens e nos arabescos impressos nas paredes, e o corpo da xícara recebeu impressões que sugerem a rugosidade das nervuras dos ramos e seus pecíolos.

O processo de confecção buscou contemplar formas agradáveis ao tato em relação ao tamanho e à harmonia de cores, objetivando envolver alguns elementos sensoriais inerentes à condição humana – a visão e o tato.

A apresentação dessa experiência almeja proporcionar variadas sensações interiores.

 

Leonardo de Aguiar
(Curitiba, PR)
Título da obra: Xícara Barroquínea

“Xícara Barroquínea”, de Leonardo de Aguiar

“O processo criativo da Xícara Barroquínea foi baseado na articulação de três pilares essenciais: função, tempo e imagem.

Como designer, não consigo fugir de priorizar a funcionalidade em todos os meus projetos; portanto, os requisitos ergonômicos e técnicos foram os primeiros a serem delineados. A xícara deveria ter as características ligadas à ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café): fundo arredondado, bordas, curvas, aproximadamente 60 ml de capacidade volumétrica, já que a opção seria para o café expresso, e uma relação de altura e largura favorável à experiência olfativa da degustação.

Partindo para o segundo pilar, ou seja, a temporalidade, a abordagem desse projeto foi de busca de características visuais contemporâneas que atentam também para a perenidade formal, explorando recursos como simplificação, abstração, geometrização e ordenação.

Por fim, como terceiro pilar para criação da xícara do Museu, foram estabelecidas referências visuais. Ficou definido, então, que o desenho da xícara deveria contemplar elementos visuais da arquitetura do icônico prédio em que o Museu está instalado – a antiga e suntuosa Bolsa de Café, que possui estilo predominantemente barroco com influências neoclássicas.

O resultado desse projeto foi uma xícara com a alça confortável, com formato e dimensões favoráveis à experiência da degustação, e a identidade com forte ligação ao prédio histórico em que o Museu do Café está inserido. À vista disso tudo, considerando que essa é uma abordagem contemporânea, o resultado não poderia deixar de ser uma xícara com linguagem que também represente o momento atual do design das coisas.”

 

Maria Estela Ripa
(Santana de Parnaíba, SP)
Título da obra: Fruto de Terras e Mares

“Fruto de terras e mares”, de Maria Estela Ripa

“Imagina uma barca que, flutuando, atravessa os mares e se conecta com outros povos e culturas. Faz conhecer ao Brasil nos lugares mais recônditos, por meio do fruto precioso da sua terra e do trabalho da sua gente.

Meu conjunto de xícaras e pires se parece com uma barca flutuando no mar, porque a metáfora do barco e do mar é rica em sentidos. Remete tanto ao aspecto histórico da chegada ao Brasil dos escravos e dos imigrantes que construíram a história do café quanto à difusão desse fruto e do porto de Santos para o mundo.

Barco e mar que, no seu vaivém, tanto separam quanto aproximam, tanto trazem quanto levam, carregam e descarregam. Mexem. “Filhos dos barcos”, de certa forma, somos todos, porque nossa vida está tecida no encontro e desencontro – dos que chegaram com os que já estavam, dos que ficaram e dos que partiram.

Porto, barco e mar são e foram meios de intercâmbio comercial. Mas, na nossa história e no nosso inconsciente coletivo, são cenários carregados de emoções. Assim, nessa dupla simbologia, navega a obra, com o intuito de expressar, mediante formas, cores e texturas, uma reflexão que enriqueça e aprofunde a nossa experiência com a café.

A forma arredondada da xícara convida ao toque, ao contato, à proximidade. Parece pedir que seja segurada nas mãos, antecipando a sensação agradável do calor. A boca abre passo ao aroma, ao tempo que se fecha levemente, para conservar temperatura. A alça larga, por sua vez, busca o conforto sem perder a graça. Já o meio no qual o pires acolhe a xícara nos convida a refletir sobre o significado da nossa experiência afetiva com o café. Abraço, acolhida, aconchego? As respostas podem ser tão variadas quanto as pessoas e precisariam de um bom café para serem compartilhadas.

As cores da xícara transitam do marrom do café ao azul das águas e do céu, representando a viagem do café mundo afora. O tom esverdeado do pires nos remete ao mar, enquanto a sua forma se transforma em barco para navegar nas águas profundas da nossa história. Na base do conjunto, tocamos a textura natural da cerâmica: a terra brasileira mesma, onde nasce e cresce o café.”

 

Vilma Harumi Tanaka Kuwashima
(São Paulo, SP)
Título da obra: Cafezinho 2020

“Cafezinho 2020”, de Vilma Harumi Tanaka Kuwashima. Foto: Museu do Café

“Agrada-me o desenho da espiral, então quis fazer uma xícara com esse detalhe que tem na alça.

Fiz a xícara em um tamanho para comportar uma quantidade maior de café. Um cafezinho para tomar em casa. Comporta 100 ml de café.

Delicioso.”

Finalistas Categoria Artística/Conceitual

Bruno Gomes Rodrigues
(São Paulo, SP)
Título da obra: Kaldi

 

“Kaldi”, de Bruno Gomes Rodrigues

“Amo café, mas nunca me questionei sobre sua origem e descoberta, portanto decidi iniciar uma pesquisa a respeito. Todos os resultados me levaram à mesma lenda que nos conta como o pastor de cabras chamado Kaldi relacionou a mudança de comportamento do seu rebanho ao se alimentar de um arbusto com pequenos frutos. Decidi, então, que minha xícara iria representar uma cabra, pois foram as das descobridoras.

Idealizei com base na morfologia das raças de cabras existentes na região da Etiópia, local do descobrimento, fiz esboços até chegar à forma básica feita no torno, que me possibilitou recortes, vincos, e concavidades necessários para representar a cabra. As orelhas pendentes surgiram dessa pesquisa e possibilitaram parte do apoio necessário para a xícara ficar suspensa, sugerindo movimento sobre o pires, que representa o café, e, com isso, simular a cabra se alimentando. Os chifres compõem outra parte do apoio, cumprindo a função de alça dupla e base; foram sulcados para naturalizar a representação da cabra em si, agregar valor estético, permitir a aderência dos dedos e, por conta da alça dupla, possibilitar uma pegada ergonômica para destros e canhotos. O pires teve como referência a forma inicial da xícara para que se harmonizassem; a ornamentação representa as folhas e os frutos do café como se saíssem do pires, insinuando não só o crescimento do café, mas também o avanço da cabra sobre seu alimento.

Visto que o esmalte tem o intuito de criar uma unidade, optei por um branco impuro, reativo e fosco para valorizar e se simplificar as formas. Essa tonalidade também alude às memórias antigas que resistem ao tempo, como esculturas em pedra, mas ficam marcadas – consegui essas marcas de pedra na junção de uma argila com pouco chamote e o esmalte.”

 

Cristiane Reis de Andrade Meister
(Curitiba, PR)
Título da obra: Xícara Homem

“Xícara Homem”, de Cristiane Reis de Andrade Meister

“Para este trabalho, usei como inspiração o homem.

O homem que carrega, com orgulho, o grão que alimentará a alma de milhares de pessoas.

Para o pires, a inspiração foi a arquitetura circular do prédio onde está inserida a entrada principal do Museu do Café.”

 

Denise Renata Passos Ikuno
(São Paulo, SP)
Título da obra: Pingado

“Pingado”, de Denise Renata Passos Ikuno

“O cotidiano brasileiro é permeado pela cultura do café. Entre os inúmeros tipos de bebidas como café, o “pingado” é um dos mais populares. Um copo americano com leite e “um pingo” de café. O Museu do Café também usa, como grafismo, uma gota em alguns de seus materiais gráficos. Pensando nisso, o conjunto de xícara e pires proposto fugiu do utilitarismo convencional e ganhou um aspecto totalmente conceitual. A xícara tem um formato de gota e foi modelada em argila preta, remetendo ao café. O pires forma um splash, como se a gota estivesse pingando no leite, representado pela porcelana. O café em si não é abrigado pela xícara, mas, sim, pelo pires. Por serem formas essencialmente orgânicas e espontâneas, o desenho final foi projetado durante a modelagem; nesse caso, a modelagem manual.”

 

Eliana Silva Pereira de Carvalho
(Santos, SP)
Título da obra: Sem Tempo

“Sem tempo”, de Eliana Silva Pereira de Carvalho

“Uma das belezas mais cobiçadas para se ver de perto: o Relógio do Museu.

Em uma torre muito alta, funcionava, silenciosamente, um relógio que, de repente, inconformado com a solidão, decidiu buscar a conversa e, por isso, despencou das alturas, sendo salvo pela, também solitária, xícara!”

 

Fabio Nascimento Ushirobira Hoga – Segundo lugar
(Cravinhos, SP)
Título da obra: O Sansão do cais em: de onde vem?

 

“O Sansão do cais em: de onde vem?”, de Fabio Nascimento Ushirobira Hoga

“Minha obra é inspirada na história e na escultura do estivador Jacinto, presente no Museu do Café de Santos, e retrata a cena deste trabalhador carregando uma saca de café. Segundo histórias e algumas fotos, Jacinto era capaz de carregar até cinco sacas de café de uma vez, o equivalente a 300 quilos.

Você já parou para refletir sobre de onde vem o café que você consome? Será que as pessoas envolvidas no processo de produção, da escolha da muda até o café chega às prateleiras do supermercado, têm condições dignas de trabalho? Será que os produtores estão preservando o meio ambiente como deveriam ou estão colocando cada vez mais veneno em nosso alimento? De acordo com dados da Agência Brasil, em 2019 foram resgatadas mais de mil pessoas em situações análogas ao trabalho escravo no Brasil, e o café é a segunda atividade com maior número de resgatados, totalizando 106 pessoas.

Acredito que nós, consumidores, temos total responsabilidade pelas escolhas que fazemos, pois, ao comprarmos um produto, estamos concordando e apoiando todas as ações e os valores desta empresa, sejam elas boas ou ruins. Após essa reflexão, criei o pires-escultura que representa o estivador Jacinto e todos os trabalhadores explorados no Brasil. A xícara é representada por uma saca de café de juta aberta, com as bordas dobradas e, dentro dessa saca, está a riqueza que o café trouxe para o Brasil, simbolizada na cor do ouro. A xícara foi feita utilizando a técnica do beliscão, que foi escolhida a partir de pesquisa sobre de onde a planta do café é originária. A teoria mais aceita é a de que o café é nativo da Etiópia, onde, há muito tempo, existe a Cerimônia do Café, que é um ritual do momento em que se prepara e consome a bebida. Nesse ritual, é usado um bule de cerâmica etíope chamado jebena, que, tradicionalmente, é feito com uma técnica muito parecida com a do beliscão; por isso, essa técnica foi usada.”

 

Givaldo Barbosa da Silva
(Aracaju, SE)
Título da obra: Xícara Estrela

“Xícara Estrela”, de Givaldo Barbosa da Silva

“A concepção da Xícara Estrela surge, primeiramente, da necessidade de se ter algo do prédio do Museu do Café representado na peça. Daí, durante o tour virtual, deparei-me com o símbolo da estrela de Davi presente em dois espaços dos importantes: no piso da marquise do acesso principal e no centro do coração do Museu, no Salão do Pregão. Dessa forma, estava mais do que fundamentado o peso desse símbolo e seu grande potencial de uso para a concepção de uma xícara que homenageasse esse espaço.

A estrela de Davi tem sido utilizada, há milênios, em diversas culturas, ora como símbolo de proteção, ora como de resistência e afirmação da identidade. Em outros aspectos, aparece como a união do céu com a Terra ou a dualidade (vista nos triângulos) entre o mundo espiritual e o físico. Seja como for, a estrela de Davi diz respeito ao uma ideia de bem maior, principalmente para quem a usa como símbolo.

Assim, diante da liberdade imposta pela categoria artística, imaginamos o pires como a própria estrela, que dá origem e sustenta a xícara que, por sua vez, é o receptáculo do líquido precioso, o café.

Neste contexto, no conjunto pires/xícara, está toda a força dessa simbologia da estrela de Davi, direcionada ao enaltecimento do Museu do Café, da casa e do seu conteúdo. Em termos práticos, optei por uma ajuda terracota local, que foi o modelada em uma peça-base (da estrela) de onde se tirou um molde em gesso que serviu para a produção do pires. Já a xícara foi elaborada no torno e recebeu, posteriormente, as asas, como elementos que se “desprenderam” da estrela. O esmalte escolhido partiu para os tons terrosos do chão dos cafezais, especificamente uma combinação entre marrom-claro fosco e cinza-claro, ambos de fabricação de Tania Lipas.”

 

Ingrend Guimarães Cornaquini
(Americana, SP)
Título da obra: Pedra fundamental do café brasileiro: vidas e histórias invisibilizadas

“Pedra fundamental do café brasileiro: vidas e histórias invisibilizadas”, de Ingrend Guimarães Cornaquini

“Das muitas injustiças e dores que esta terra e sua gente sofreram, surgiram grandes riquezas oriundas do jugo de escravizados. A força, a virtude e a energia dos povos africanos e indígenas foram o que levantou os palacetes nas principais ruas de todas as cidades estruturou toda a força de trabalho desde a descoberta do Brasil.
Este projeto tem como intuito homenagear evidenciar a existência de todas as pessoas escravizadas que construíram este país e têm suas histórias silenciadas, em especial as muitas delas que foram submetidas ao cultivo vertiginoso do café, construído São Paulo como metrópole.

Todas as histórias do café brasileiro, das mais vangloriados até sentenciadas, têm como pedra da de fundação o árduo trabalho e a vitalidade desses milhões de cativos. São essas pessoas que, compulsoriamente, viabilizaram toda a cadeia de produção do café, desde a derrubada de batas, aberturas de estradas, plantações, colheitas, secagem, carregamentos, transporte até a torrefação, fazendo com que a cultura desse grão que energiza e deixe com bom espírito qualquer um que tome a sua perfumada infusão enriquecesse os magnatas sudestinos e o império escravagista durante o frenesi da Revolução Industrial. Tal fato deu fama ao Brasil e lhe atribuiu dois títulos do século XIX: o último país a abolir a escravidão e o maior produtor de café no mundo, convenientemente. O conjunto criado tem a xícara como detentora do ouro negro sacralizado, mas totalmente dependente do pires estruturado como pedra de fundação com janelas para os horizontes silenciados. A massa preta e a porcelana representam as dicotomias entre a natureza e estruturas colonialistas.”

 

Marisol Gracia Vieira Barini
(Camaçari, BA)
Título da obra: Desconstrução

“Desconstrução”, de Marisol Garcia Vieira Barini

“Obra foi inspirada na desconstrução da história por trás do império do café, dando destaque à natureza que possibilitou esse grande marco da nossa história.

A estrutura da xícara foi modelada em argila branca local e recebeu um trabalho delicado de vazado, inspirado na fachada do Museu.

A protagonista da nossa história, a grande responsável por esse império, a flor do café, foi modelada em porcelana branca para destacar sua importância. Todo o acabamento, exceto a flor, é em esmalte branco.”

 

Nadia Saad – Primeiro lugar
(São Paulo, SP)
Título da obra: Esplendor do Café

“Esplendor do café”, de Nádia Saad, 1º lugar na categoria Artística/Conceitual

“Sempre em busca de novas materialidades, eu estava imersa em uma pesquisa que me permitisse expressar leveza e, ao mesmo tempo, capturar e materializar, na cerâmica, o movimento que acontece em um átimo de segundo.

Nesse instante, chegou a notícia do concurso A Xícara do Museu, para comemorar o 22º aniversário do Museu do Café, com organização do Instituto de Preservação e Difusão da História do Café e da Imigração – INCI, em parceria com o Cerâmica Contemporânea Brasileira – CCBras e sob curadora curadoria da ceramista Atelier Hideko Honma.
Imediatamente me atirei nesse desafio, redirecionando a pesquisa que já estava em andamento. Eu já usava tecido, barbotina sem silicato, argila São Simão e muito senso de observação, além de testes sem fim.

A imaginação fervilhava em torno da xícara e as ideias foram se consolidando à medida que minha pesquisa com esses materiais inusitados avançava. Neste trabalho, eu quis evocar estes sentidos no observador: olfato, paladar, olhar, tato, memória da experiência sensorial que se desfruta quando servimos um café preparado com grande expectativa do porvir.

O vigor e a força dessa bebida animam o dia das pessoas desde os primeiros raios de sol. O aroma penetra na casa, invade as narinas, deposita-se na boca, preparado ao gosto de cada um.

Satisfação, uma pausa para o prazer; para muitos, um ritual acompanhado de outros elementos da culinária: bolo de fubá pão de queijo, croissant

A grandiosidade do café transcende uma xícara!

Materializar tanto o movimento quanto esse momento, a rebeldia do café que se esparrama na xícara e escapa em forma de aroma, eis o sabor desta peça!”

 

Silmara Aparecida S. de A. Benetton
(Piracicapaba, SP)
Título da obra: Inversa

“Inversa”, de Silmara Aparecida Salvego de Aguiar Benetton

“Sempre ouço alguém dizer: “O mundo está de cabeça para baixo!” ou “Os valores estão invertidos!”.

Fazendo jus ao meu otimismo e à minha crença no ser humano, acredito ser esse pensamento equivocado.

Da mesma maneira que uma xícara que se parece invertida, com os seu pires de “ponta-cabeça” e sua alça contrária podendo conter um delicioso café, um mundo novo pode também ser extraído da máquina da humanidade quando seus habitantes viram e reviram ideias, mexem e remexem conceitos e preconceitos, experimentam o doce e o amargo e, assim, fazem exalar valores mais nobres e justos, rumo à evolução.”

 

Leia mais

Vencedoras do concurso A Xícara do Museu explicam suas criações

Conheça as peças vencedoras do concurso A Xícara do Museu

Revisite 10 peças clássicas do atelier de Hideko Honma

Bate-papos on-line e vídeos mostram beleza e técnicas de cerâmica